quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Mustardseed

Consigo esconder-me numas árvores que não estavam longe, aqui sim, sinto-me segura, e vejo o Puck, tal como esperava, um corvo. Estreito os olhos, ele tem um tamanho muito maior do que deveria. Um corvo dos antigos, o Puck transformou-se num corvo dos antigos. Mas o que é que ele vai fazer? Vai atrás delas!!

Mas estarei a ver bem? Colocou a de vestido rosa, ou vermelho, nem sei, no dorso.

Oh meu Deus, ela saltou ela... DESAPARECEU!!! Eu nunca vi uma criatura mágica desaparecer diante dos meus olhos!

O coração bate-me e com razão, eu sinto-me ameaçada, afinal quem são estas duas? A que ficou no chão grita, diz que não nos vão fazer mal, que aqui ninguém nos faz mal e eu pergunto-me mas afinal que sabe ela?

Volto-me para a floresta, o meu meio, as minhas árvores, e decido explorar. A floresta sempre acolheu e respeitou as Fadas, entre outros seres mágicos, por isso avanço sem medo. É estranha, mais fria, e mais insípida que o nosso bosque. E começo a sentir frio. Procuro um abrigo em alguma árvore e não me preocupo. O Puck saberá onde me encontrar.

[Enrosca-se dentro de um buraquinho no meio de umas raízes. Um suave brilho emana da Fada adormecida.]

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Puck


Tive que me transformar de novo em corvo. Não num daqueles que por hoje voam nas florestas e nas cidades mas um dos velhos gigantes que um dia se juntaram e voaram para longe. Tenho que pôr estas duas a salvo antes de procurar a Mustardseed.

Pego primeiro na de cabelo azul e monto-a entre as asas e sinto o seu pânico e tento acalmá-la sem que me perceba e faço um voo rápido até às árvores e deixo-a e de repente já não a vejo e fico confuso mas sei que ainda ali está porque a consigo cheirar. Avisto a fada ao longe e vou na sua direcção mas voa louca sem parar e decido que é melhor ir ter com a outra mulher, agora sozinha na planície. Pouso diante dela.

-Olá o meu nome é Puck e não sei onde estamos nem porque aqui estamos, deixei a tua amiga ali junto às árvores e não sei se sabes mas ela tem poderes, ficou invisível diante dos meus olhos e tu também tens poderes, tens algum que possa meter juízo na cabeça de uma fada louca?

sábado, 22 de agosto de 2009

Jane

Sinto os olhos pesados, e abro-os com dificuldade. Sinto um cheiro a flores e consigo sentir mar perto. Levanto a cabeça. Que pesa, que dói. E de repente sinto umas garras a agarrarem-me o corpo e sinto-me em voo. Um corvo gigante agarrou em mim e inexplicavelmente colocou-me no seu dorso. A mf olha, assusta-se e fica apavorada por não me ver mais ali. Quero gritar, mas alguma coisa me emudece a voz. Não sei onde me querem levar mas tenho de sair dali. Estamos a ganhar cada vez mais altitude, e algo me diz que vamos em direcção a algo perigoso. Não penso mais e salto. O meu cabelo ganha um volume assustador, consigo senti-lo e aterro em vez de me estatelar no chão. Preciso de me esconder. Uso o truque que sempre usei mas que nunca contei a ninguém. Torno-me invisível aos olhos dos demais. Vejo a mf ao fundo, mas não me posso revelar. Ou talvez possa. Como iria ela reagir ao saber que a melhor amiga dela, de tantos anos, tem a capacidade de se tornar invisível aos olhos dos outros?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

mf

Um ruído harmonioso força-me a abrir os olhos. De seguida, enche-me as narinas um cheiro fresco e doce. O sol invade-me, quente. Conheço bem a sensação de descanso neste campo. Estou em casa.

De repente, levanto-me, em sobressalto. Pressinto um perigo qualquer que não consigo definir e olho em meu redor. A Jane dorme, tranquila, e não a acordo. Ao fundo da planície avisto uma criatura estranhíssima. É feia, coça-se toda e estrebucha por todos os lados, enquanto corre atrás... da fada! Ah! A fada! Afinal eu tinha razão!

Viro-me para a Jane, entusiasmada, para que não perca o que se está a passar, mas algo me faz gelar. Para onde foi ela??

Viro a cabeça em direcção à fada e à criaturinha esquisita que a persegue e só tenho tempo de me baixar: duas asas peludas passam por cima da minha cabeça e uma luz brilha por cima dela. Estão a fugir!

Corro atrás deles e grito: 'Voltem! Aqui ninguém vos faz mal! Não vão para as árvores altas, é perigoso!' Não sei se me ouviram. Também não me interessa. Tenho de encontrar a Jane. Para onde foi ela????

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

MustardSeed

- Mágicas?! MÁGICAS?! Tu queres dizer que estas duas criaturas são como nós?! Mas era mais o que me faltava!

Sinto a cabeça à roda, eu nunca tinha visto humanos mágicos e nunca me passou pela cabeça que pudessem existir mais como nós. Seres mágicos.
O Puck apressa-me a que use o pó para as acordar, mas eu não quero, eu não quero saber dessas duas, eu não me esqueci que uma delas me partiu a asa, que está incrivelmente curada.

Viro as costas, e levanto voo à procura de alguma árvore para poder poisar e pensar, e atrás oiço o Puck completamente fora de si a chamar-me e a dizer que ainda me vou matar. Não quero saber, eu simplesmente não quero andar com aquelas duas atrás de mim, sejam elas mágicas ou não. Não fossem elas estariamos no nosso bosque, abrigadas pelo nosso Rei Oberon e a nossa Rainha Titânia, e agora eles nem sonham onde estamos...

E algo me diz que o Puck se vai transformar de novo e voar na minha direcção...

[Lança um forte suspiro e uma melodia suave mas forte enche o ar.]

Puck



-Não faço a mínima ideia de onde estamos, mas o que nos trouxe aqui foi um buraco mágico, um portal por onde só passam seres de magia, sabes o que isso quer dizer? – Nem a deixei responder. – Essas duas aí caídas são mais do que parecem ser…

A fada olhava-me atónita e eu senti uma picada nas costas, raio das pulgas… Senti uma nova picada, não costumam ser tão atrevidas, estendi o braço por cima do ombro e vasculhei por entre os pêlos e encontrei-a, apertei-a por entre os dedos e quando me preparava para a esmagar ouvi um zumbido. Hesitei e encostei-a ao ouvido, nem queria acreditar… Bom antes assim… Pelo menos podia dividir a responsabilidade, pus a pulga atrás da orelha, o que não deixou de ser caricato…

-Será que essas duas vão demorar muito tempo a acordar, não sei se vai levar muito a anoitecer mas não gosto deste sitio, estamos demasiado expostos e imagino que mais cedo ou mais tarde essas vão ter fome e sede. Não tens por aí nenhum pó de acordar?

domingo, 2 de agosto de 2009

MustardSeed

Acordo, depois de um sono que me pareceu durar uma vida. Olho para um céu estranhamente, intensamente, azul, e não vejo copas de árvores. Onde é que eu estou?!

Levanto-me. A asa já não me dói, a asa está curada! Meu Deus... quanto tempo terei eu dormido?! Dou-me conta do Puck, que ainda não reparou que acordei mas que está acordado, e dou-me conta das duas humanas, o que me faz suspirar. Quando eu suspiro sai uma melodia. O Puck olha para trás, para mim, e a primeira coisa que se lembra de me dizer é onde é que eu tinha a cabeça para me dar a conhecer assim às humanas, e que eu sou uma imprudente, e bla bla bla! É que nem lhe respondo, viro-lhe as costas, e ele sabe bem, mas muito bem que quando faço isto não vale a pena continuar!

Quando ele se cala, volto-me de novo para ele e pergunto:

"Puck, mas onde é que nós estamos afinal?!"

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Jane

Ainda estou atordoada com tudo o que aconteceu. A mf continua a caminhar comigo, a segurar-me a mão e eu a pensar que raio de "poder" foi aquele que eu senti. Era como se... se eu abrisse a boca, tudo pudesse mudar, obedecer à minha voz. Uma coisa completamente irreal, penso para comigo, e acho mesmo que é imaginação.

Sinto alguma coisa atrás de mim, e olho para trás. E fico fascinada a olhar para uma bola de luz, que cospe luz por todos os lados e que cresce e que parece que me vai comer. E sinto-me envolvida por essa luz, e de repente estou a dormir no meio do vazio, um vazio branco, e só quero ficar ali, e dormir, dormir, dormir, sabe tão bem.

E perco a memória de mim.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Puck



Quando tudo parecia que se ia resolver, que as intrusas iriam sair da floresta e que iria poder fazer o gosto de repreender a insensatez tonta da MustardSeed em se ter revelado a meras humanas, o céu escureceu, o vento começou a gritar um lamento de dor penetrante e as árvores tremeram como se o fim dos tempos manifestasse o seu inicio.

Primeiro surgiu uma pequena bola rodopiando a soltar lampejos de luz em todas as direcções e depois cresceu como uma enorme boca que abocanhou as duas miúdas e avançou implacável na minha direcção, por instinto saltei e por infortúnio na direcção do buraco onde se escondia a MustardSeed e fui envolvido pela luz e caí num buraco sem fundo amortecido por paredes feitas de um nada acolchoado e vi que a fada me seguia ainda inanimada, o pequeno corpo envolto numa aura alaranjada e tentei nadar na queda na sua direcção mas sem sucesso. Por fim atingi o chão sobre uma enorme planície relvada salpicada de flores exóticas, ao meu lado, sem sentidos, as duas humanas e a fada, inexplicavelmente com a asa curada.

Resignei-me e regredi para o meu corpo natural de pequeno diabrete, peludo e de pés de cabra, antecipava o começo de uma estranha aventura, podia ter escolhido melhor companhia…

sábado, 18 de julho de 2009

Jane

Sinto uma presença por detrás de mim, a mf chegou. Parece que me sinto voltar a mim, e o cão já não me parece grande, muito pelo contrário é um cão pequeno, e o meu cabelo parece começar a diminuir. Eu não gosto muito de cães e ainda por cima cães pequenos que crescem e que falam a nossa língua. Vindo do nada aparece um Velho, com um ar amistoso como que a querer por controlo na situação. Pede desculpa pelo cão, que é dele e eu fico sem perceber se ele sabe que o "cão dele" fala a nossa língua. Que a floresta é perigosa, e que duas lindas meninas como nós não deviam andar por aqui.

Eu começo a falar, tentar explicar que estávamos a passear quando a mf viu o que parecia ser uma fada, mas logo atrás de mim a mf, de pau na mão começa a falar ao mesmo tempo que eu, e tudo se torna num discurso confuso, sem pontas e a duas vozes.

O velho tenta acalmar a confusão. Fala de bezerros e pirilampos e caprichos da natureza mas eu já não estou a prestar atenção. Estou a olhar para baixo, atentamente, ao brilho que está, aos poucos a desvanecer, e reparo nuns olhos brilhantes que espreitam silenciosos, cautelosos e curiosos. A fada está ali, debaixo do meu nariz, e olha directamente para mim. Ao ver que estou a olhar também desaparece e o brilho aumenta num de repente.

Sinto a mf, apressada, a levar-me pela mão, e volto a não conseguir articular palavra. Ao olhar para trás, já não vejo nenhum cão ou velho, e o brilho, menos intenso é agora a única coisa que me diz que tudo aquilo foi real...

"mf, onde vamos nós?", pergunto atordoada enquanto ela me leva pela mão e a murmurar qualquer coisa que não consigo entender.

terça-feira, 14 de julho de 2009

mf

Aproximei-me a correr, mesmo a tempo de ver um clarão a dançar em frente à Jane (a fada!!!!) e um cão minorca a rosnar tanto que lhe pôs os cabelos em pé. Dá-me uma imensa vontade de rir (é tão, mas tão raro alguém conseguir assustar a Jane), mas depois fico com a impressão que tenho de a ajudar. O cão, apesar de tísico, deve parecer gigantesco aos olhos dela, dado que tem pânico de ser mordida. Assim, pego num pau e, tentando controlar o riso, lá vou eu.

Quando estou a chegar, aproxima-se um velhote e acalma o cão. Depois convida-nos a sair da floresta, dizendo que o que vimos foi um pirilampo gigante. Mas ele acha que eu acredito? Sei bem o que vi! Contudo, não acho que valha a pena discutir com ele. Está mesmo a tentar convencer-nos e a Jane está completamente atordoada.

O cão anda aqui a rondar, com cara de poucos amigos, e não me apetece que a morda. Por isso digo ao velhote que não precisamos de ajuda e que vamos embora. Não sei como é que ainda não se escangalhou todo, quase se conseguem ouvir os ossos a dançar dentro dele. Mas sinto, não sei porquê, que nunca nos faria mal. Contudo, sei que não nos deixará passear pela floresta.

Por isso, pego na mão da Jane e vamos embora. Ao voltar as costas vejo, pelo canto do olho, um clarão atrás do cachorro. Pirilampos... Sim, sim...

Puck



Naquele instante aquela situação deu-me uma vontade incontrolável de rir e um cão enorme de dentes em riste e a espumar baba pela boca e a esganiçar-se de riso, não é bonito de se ver.

Num repente ele apareceu e assumiu o controle. – É perigoso duas lindas meninas, andarem sozinhas na floresta, podem perder-se, aqui o meu Rex ladra mas não morde e peço desculpa pela brincadeira, mas eu sou ventríloquo e não resisti a brincar convosco – A outra tinha-se agora aproximado a tremer com um pau na mão e eu alinhei na história e deitei-me de focinho no chão aos pés dele, Simon Wintergarten o mordomo do rei, o solucionador de problemas, o grande jardineiro, tão velho como a primeira árvore, a sua presença parecia acalmar o vento e a floresta silenciava-se para que a sua voz se ouvisse acima de qualquer som, nem uma folha se atrevia a cair.

Elas, depois de sossegarem um pouco desataram as duas a falar ao mesmo tempo de fadas brilhantes e perseguições por entre as árvores, ele uma vez mais fez soar a sua voz soberana – Eu sou o guarda desta floresta e por aqui habita uma espécie de pirilampos enormes, há quem diga até que foram eles que inspiraram os poetas a imaginarem seres fantásticos, fadas e outros seres brilhantes com asas e poderes mágicos mas são apenas caprichos da natureza, tão reais como besouros e abelhas, meros insectos, mas venham, eu levo-as à orla da floresta, o Sol não tarda nada vai esconder-se e a floresta é um local pouco acolhedor e nem todos os bichos que por aqui andam são tão inofensivos como os pirilampos ou apenas ladram como o meu cachorro – Tinha uma vontade enorme de lhe morder uma perna, mas sabia o que Oberon me faria e aproximei a cabeça da miúda de cabelo azul e ronronei, deixando que a medo me fizesse uma festa, ao que isto chegou, pelo menos esperava que a Mustardseed se deixasse ficar escondida no seu buraco…

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Mustardseed

"A humana, que estava de joelhos a olhar para mim, levantou-se. Um cão. Será ele?

[Medo]

Saio um pouco à volta do esconderijo e assusto-me com o que vejo. A humana esconde no rosto emoções um pouco dificeis de descortinar, como se um misto de medo e fascínio e eu não consigo controlar esta sensação de perigo à minha volta. Não consigo articular som, não me consigo mexer, e apenas me dou conta de que estou a brilhar até à exaustão. O cão ladra alguma coisa, com um ar feroz, meu deus, não pode ser o Puck! Assim que ele ladra, a humana toma uma dimensão que eu nunca vi num humano, parece uma bruxa, e o cabelo, meu deus, o cabelo fica do dobro do tamanho! Como é que é possível?! E o meu brilho, quanto mais brilho mais força perco e já me sinto desvanecer!

Eu tenho de ser forte, eu tenho, eu tenho!

[Escondendo-se nas raízes das árvores.]

Eu tenho de sair daqui! Eu tenho de parar de brilhar! Eu tenho de me acalmar!

Oh meu Deus. Respirar fundo, respirar fundo, respirar fundo!

[Desmaia.]

terça-feira, 7 de julho de 2009

Jane

Tento refazer-me do susto, e fico a olhá-la. O soluçar parou e a fada emana um brilho que nunca tinha visto. Dourado, brilhante e que parece estar a aumentar.

E vindo não sei de onde vejo um cão preto. Enorme, com uns dentes brancos imaculados a rosnar. Parece uma criatura mítica, não só pela enormidade mas pelos olhos profundos e brilhantes.

[Medo]

Não me consigo mover mais de dois passos, não consigo fugir. E onde estará a mf?! O fascínio prende-me ao chão e as minhas pernas não conseguem responder ao impulso gerado pela presença de perigo. Correr.

E ele rosna cada vez mais alto, e ele cresce cada vez mais e eu não consigo mexer um músculo nem deixar de o olhar nos olhos. Sinto um brilho vindo debaixo e sei que a fada está a brilhar agora com mais intensidade, como se fosse uma estrela, e empresta mais claridade, mais fascínio, e eu não me consigo mexer.

E o cão, no seu crescente portento abre a boca e o habitual rosnar dá a vez a uma voz clara e grave que ecoa através de todo o bosque.

"Sou o guardião dos portões, protector dos seres imaginados, parti de imediato, abandonai esta floresta e esquecei o que vistes."

Sinto o medo quebrar-se à minha volta como se se estilhaçasse em mil pedaços de nada e não deixo de olhar para ele. Ele espanta-se por eu não mover um músculo. Eu sinto que a minha expressão muda, desde o pavor à aspereza de alguém com Poder, e o meu cabelo, azul e negro estará por esta altura com o dobro do volume.

Estamos parados, cada um à espera do próximo passo.

Puck


Isto agora é que me vai mesmo doer.

Pouso no chão, escondido por trás de uns arbustos, vejo as mulheres, uma perto e a outra ao longe a procurar, ouço-lhes o bater dos corações, sinto o pânico da Mustardseed e sei o perigo que isso pode representar, para ela, para as mulheres e para mim, deixo que a dor me invada e as penas encaracolem e os ossos solidifiquem e cresçam, a transformação demora apenas alguns segundos, mas a dor vai demorar dias a passar, o castigo da dádiva, costumavam ser as palavras da minha mãe.

Sou agora peludo e enorme e os meus olhos faíscam e os dentes afiados contrastam de branco todo o meu negro. Salto de repente para o espaço entre a primeira mulher e a fada e rosno de raiva, esperando que ambas reajam, que o pânico se transfira da fada para a mulher, que uma me perceba neste corpo de cão e que a outra fuja.

Infelizmente a mulher gelou de pavor, recua mas não foge e ouço a outra aproximar-se a correr e a burra da Mustardseed, com o pânico não percebe que sou eu que estou aqui e está prestes a eclodir, não me resta outra alternativa, o Oberon vai matar-me por isto… Grito na língua dos homens.

-Sou o guardião dos portões, protector dos seres imaginados, parti de imediato, abandonai esta floresta e esquecei o que vistes. – Que treta de tirada, que excremento de conversa e o raio da Mustardseed que cada vez brilha mais.

mf

Desatei a correr. Eu vi, JURO que vi, uma fada. Pequenina, brilhante, asas lindas, esvoaçantes. Esfreguei os olhos, atónita, mas lá estava ela. Real! Tão real com as minhas mãos, que adorariam tocar, só tocar, no sonho.

A vontade foi tanta, que desatei a correr. Ainda chamei por ela, mas devo-a ter assustado... Fugiu em direcção ao céu e não a vi mais. Confundiu-se com as estrelas que caem do céu (tem um brilho igual!!!), nestas fantásticas noites de Verão. Uma melodia de brilho só comparável ao beijo que a lua deixa nas folhas das árvores que sussurram em contradança. Vou continuar a procurá-la. Há-de aparecer em algum lado! Preciso de a mostrar à Jane!

Por falar nisso... Pobre Jane! Deve ter ficado preocupada. Apetece-me continuar à procura, mas se calhar é melhor voltar... Não vá ela assustar-se com as sombras do bosque. Não que ele seja fantasmagórico. Mesmo de noite, é lindo. Só não gosto do parvo do corvo que andou por aqui a esvoaçar há bocado. Brrrr... Não gosto de corvos. Fazem barulho, roubam o que lhes chega ao bico e só pensam nas suas lustrosas asas de carvão bafiento.

Prefiro as andorinhas. Bem mais acolhedoras. Um espécie de fadas negras que se protegem nas sombras à espera de quem precise de protecção. Sábias, no seu piar.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mustardseed

"Ouço passos na relva. Consigo ouvi-los ao longe, parece que pisam com cuidado para não ser ouvidos, oh meu Deus, o que andará ai?! Bolas, isto dói tanto, eu não consigo parar de chorar, e há tanto tempo que não partia uma asa que já nem me lembrava como era!

Onde estará aquele corvo desvairado, meu Deus, que nunca mais chega, e a Cobweb devia cá estar e não está... A nossa querida rainha tem-na presa, bolas, pobre Cobweb, que tanta falta me fazia!

E os passos estão a aproximar-se, meu Deus, isto dói tanto, que me dá vontade de berrar!!!!

[Encolhendo-se, chegando-se para trás]

Puck, Puck, volta depressa. Eu sei que tu gostas é de fadas roliças, eu sei que eu sou uma lingrinhas, mas deixa lá isso, eu preciso de ti!

[Prestando atenção aos sons.]

Meu Deus, está a correr agora e está a APROXIMAR-SE! E parou em frente ao meu esconderijo!

É a humana de há pouco que me partiu a asa!

PUUUUUUUUUUUCCCKKKKKKKKK!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

domingo, 5 de julho de 2009

Jane

"Acordo com uma dorzinha, como se algo me tivesse picado. E, de facto, tenho um ramo qualquer a meias na pele, no meu braço. Sento-me, e retiro-o. Nem é assim tão grande, mas dói um bocadinho a tirar. Sangra um pouco mas não estou nem aí.

O que agora preciso mesmo é encontrar a mf. Olho à minha volta e perco-me no estranho brilho que emana das árvores. Nunca tinha visto folhas brilhantes, e a visão da coisa parece magia. Gritar aqui nem parece boa ideia. É como se, ao gritar, tudo fosse desaparecer.

Começo a andar, atenta aos sons, que me parecem uma melodia e, como que a rompê-los o voo de um corvo rasa a minha cabeça, vindo não sei de onde, em direcção ao céu. Assusto-me, mas passado o susto continuo a andar. Devagar, porque não sei mas tenho medo de pisar alguma coisa que não deva, como se ali houvesse fragilidade.

Ouço um choro. Pequeno, miudinho, e apresso-me a procurar a origem. mf, penso. Estará bem? Será que é ela a chorar? Esqueço-me da fragilidade e começo à procura, numa urgência, da origem deste som. Mas parece-me surreal. Parece vir de debaixo de umas raízes de árvore onde nem uma criança caberia, e isto definitivamente não é o choro de um bebé.

Ajoelho-me no chão, intrigada, à procura da origem de tal barulho enquanto penso, que animal poderia emitir tal som?!

Espreito. E vejo algo brilhante na escuridão. Parece uma figura humana em miniatura mas... com asas!

Uma fada...

sábado, 4 de julho de 2009

Puck



Icei-me bem por cima das árvores, a floresta estende-se agora em todas as direcções, como um manto verde e castanho, eu nem gosto do cheiro das plantas e sei que muitas não gostam de mim, acho até que mudam de cheiro quando me vem por perto, por isso a esta altura já não lhes sinto o cheiro e isso agrada-me. O Sol reflecte a luz sobre as minhas penas e avisto ao longe o lugar que procurava.

Pensam os humanos que as florestas são lugares mágicos, pelo menos pensam alguns humanos que as florestas são lugares mágicos, aqueles que tem alma de poeta ou loucos ou se calhar os poetas são loucos e os loucos são poetas sem capacidade de convencer os outros que são poetas, mas as florestas não são lugares mágicos, são lugares de bichos que cheiram mal, bichos que se movem e bichos com raízes, bichos que já não me temem e eu não gosto de quem não me teme, perco parte do meu poder. Não as florestas não são lugares mágicos, mas são lugares por onde se pode chegar a lugares mágicos.

Pousei sobre a pedra, redonda e achatada e bati com o bico, primeiro três vezes, depois cinco e depois sete e mais uma, números primos, a primeira linguagem inventada, abriu-se um buraco e entrei. Caminhei tão depressa quanto as minhas pernas pequeninas de ave o permitiam, o corpo a bambolear, penetrei fundo no corredor até chegar a uma grande gruta, sem as paredes de fundo visíveis, com um lago de águas negras, paradas a espelhar todos os movimentos, bem no meio.

Grasnei. Nada aconteceu e grasnei de novo. Depois esperei, que saber esperar é a forma de algo acontecer e vi ao longe uma luz vermelha, do mais vermelho que se pode imaginar, do vermelho de que se diluiu a cor do sangue a as bandeiras de raiva que inspiraram guerras e ele cresceu na minha frente, ainda me fazia tremer a sua presença, ignorante é o súbdito que não teme o seu rei.

-Oberon, perdoa-me o importunio mas trago noticias de urgência, a tua querida e protegida Mustardseed, corre perigo, aventurou-se por onde não devia e está de asa quebrada, caída no chão, à mercê de quem lhe queira mal, sabes que não devias deixar sair as crianças.
-Puck, filho bastardo de um cão sarnento e de uma fada atrasada com cio, não a podias ter ajudado? Nem me vais dizer mais nada, vais voar imediatamente para o pé dela, larga umas penas pelo caminho que eu mando ajuda, vai!

Há forças que não queremos contrariar e mesmo não gostando nada de voar em lugares apertados, sai de imediato pelo caminho de volta, Fada burra e lingrinhas, vai mesmo obrigar-me a largar este corpo…

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Mustardseed

"[Chorando]

Chega aqui mascarado de corvo, e eu nem sei sequer se é ele, até que no meio daquele grasnar eu lhe começo a reconhecer-lhe a voz.

Eu tento falar com ele, tento dizer-lhe que está uma humana no bosque, e que foi ela quem me partiu a asa, e ele nao me deixa falar!
Que vai buscar ajuda, que me esconda, se nao ainda me pisam e que sou uma tonta! Tonta, eu?!

Bolas isto dói e uma asa partida parece que pesa o dobro...

Puck, volta depressa com essa ajuda! Detesto quando te transformas em corvo..."

Puck



Estou eu aqui paradinho, em cima da arvore, escondido debaixo das minhas penas negras e a tentar dormir uma sesta e logo começa a gritaria… O que é que aquela tonta está para ali a gemer. Raios a partiram, tem uma asinha derreada.

Adoro voar, é o que invejo nas fadas, as suas asas, eu para voar tenho que me transvestir e é das poucas coisas que me fazem doer, sentir os ossos a mudar, a pele a esticar ou encolher, se ela pensa que eu agora vou largar este corpo de belo corvo para lhe dar a mão, está bem enganada.

O corvo levantou voo do cimo da árvore, bateu as asas, uma vez e mais duas vezes e depois planou em círculos, descendo e aterrando junto da fada que o olhou sem perceber se lhe chegava ajuda ou mais perigo.

Abri o bico e grasnei e uma vez mais e outra vez, até que os guinchos, deixaram de ser ruídos para serem palavras – Semente de Mostarda rançosa, em que é que te meteste desta vez? Não sabes que se partires uma asa, ficas um par de dias sem poder voar? Aí caída ainda te pisam e não te ponhas a fazer-me esses olhinhos de desamparada, que sabes que eu não gosto de lingrinhas, eu gosto é de fadas roliças, esconde-te debaixo da raiz daquela árvore que eu vou chamar alguém para te ajudar – Nem a deixei responder e parti e ouvi-a ao longe a praguejar, fada tonta, só pele e osso, não é feia de todo, mas eu gosto é de fadas roliças.. quem é que eu vou encontrar agora para a vir ajudar, ela que nem pense que eu vou largar este belo corpo de corvo…

Mustardseed

"Bolas! Eu não acredito! A humana partiu-me a asa! Invade-me o bosque e ainda levo com uma safanada!

[Correndo, correndo, correndo.]

Mas... O que é que esta está a fazer aqui agora?! Mas que mania de virem invadir o meu bosque!!!

[Olhando, atenta, para todos os lados...]

O nosso bosque...

Há pouco era a outra maluca a correr atrás de mim como se nunca me tivesse visto e a dizer "Espera! Eu pensava que vocês não existiam!" E a tentar apanhar-me como se eu fosse uma borboleta! Agora tenho esta humana armada em chica esperta, parte-me a asa e ainda resmunga "mosquitos musicais!"!!! Mas esta gente pensa que está onde?! Na terra deles, pois claro!
E aquela criatura onde se meteu?! Quando mais preciso dele é quando ele menos aparece!

Bolas, agora vou ter de ficar dois dias até a asa crescer de novo, e como se não bastasse vou ficar com uma asa de cada cor!

Só me falta agora é a outra aparecer-me a dizer "Eu não sabia que vocês existiam!" Mas o que é que estes humanos pensam que são as estrelas cadentes?!

Burros..."

O bosque...

"Estou cansada, e dóem-me as pernas. Não sei por onde anda a mf. Estávamos a caminhar juntas e ela... Ela diz que viu uma fada e foi atrás dela. Eu disse logo que as fadas não existem, e ela disse que também não acreditava mas que tinha visto uma. Se não acreditava como é que viu? Afinal nós não vemos só o que queremos? Já há mais de... Perdi a noção do tempo. Tento sempre apanhar aquelas flores que fazem de relógio, mas nunca me entendo com aquilo. Nunca tive um relógio. Mas também nunca soube ver as horas em flores e nunca acreditei em fadas.

Vou-me sentar aqui neste bosque, aqui nesta árvore. Estou preocupada com a mf, mas já estou cansada de gritar por ela, e de andar às voltas e de não a ver. Este silêncio parece ter alguma espécie de musicalidade que eu não consigo descobrir a origem. É estranho.

Acomodo-me aqui nesta árvore. Isto não é lá muito confortável. Fecho os olhos a pensar na mf. Onde estará ela?

Sinto algo a esvoaçar-me à volta, um esvoaçar leve e quase musical. Hmpfff... Mosquitos musicais. Sacudo à minha volta com a mão sem abrir os olhos, e tudo fica em silêncio.

Dormir."