terça-feira, 7 de julho de 2009

Puck


Isto agora é que me vai mesmo doer.

Pouso no chão, escondido por trás de uns arbustos, vejo as mulheres, uma perto e a outra ao longe a procurar, ouço-lhes o bater dos corações, sinto o pânico da Mustardseed e sei o perigo que isso pode representar, para ela, para as mulheres e para mim, deixo que a dor me invada e as penas encaracolem e os ossos solidifiquem e cresçam, a transformação demora apenas alguns segundos, mas a dor vai demorar dias a passar, o castigo da dádiva, costumavam ser as palavras da minha mãe.

Sou agora peludo e enorme e os meus olhos faíscam e os dentes afiados contrastam de branco todo o meu negro. Salto de repente para o espaço entre a primeira mulher e a fada e rosno de raiva, esperando que ambas reajam, que o pânico se transfira da fada para a mulher, que uma me perceba neste corpo de cão e que a outra fuja.

Infelizmente a mulher gelou de pavor, recua mas não foge e ouço a outra aproximar-se a correr e a burra da Mustardseed, com o pânico não percebe que sou eu que estou aqui e está prestes a eclodir, não me resta outra alternativa, o Oberon vai matar-me por isto… Grito na língua dos homens.

-Sou o guardião dos portões, protector dos seres imaginados, parti de imediato, abandonai esta floresta e esquecei o que vistes. – Que treta de tirada, que excremento de conversa e o raio da Mustardseed que cada vez brilha mais.

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