sábado, 4 de julho de 2009

Puck



Icei-me bem por cima das árvores, a floresta estende-se agora em todas as direcções, como um manto verde e castanho, eu nem gosto do cheiro das plantas e sei que muitas não gostam de mim, acho até que mudam de cheiro quando me vem por perto, por isso a esta altura já não lhes sinto o cheiro e isso agrada-me. O Sol reflecte a luz sobre as minhas penas e avisto ao longe o lugar que procurava.

Pensam os humanos que as florestas são lugares mágicos, pelo menos pensam alguns humanos que as florestas são lugares mágicos, aqueles que tem alma de poeta ou loucos ou se calhar os poetas são loucos e os loucos são poetas sem capacidade de convencer os outros que são poetas, mas as florestas não são lugares mágicos, são lugares de bichos que cheiram mal, bichos que se movem e bichos com raízes, bichos que já não me temem e eu não gosto de quem não me teme, perco parte do meu poder. Não as florestas não são lugares mágicos, mas são lugares por onde se pode chegar a lugares mágicos.

Pousei sobre a pedra, redonda e achatada e bati com o bico, primeiro três vezes, depois cinco e depois sete e mais uma, números primos, a primeira linguagem inventada, abriu-se um buraco e entrei. Caminhei tão depressa quanto as minhas pernas pequeninas de ave o permitiam, o corpo a bambolear, penetrei fundo no corredor até chegar a uma grande gruta, sem as paredes de fundo visíveis, com um lago de águas negras, paradas a espelhar todos os movimentos, bem no meio.

Grasnei. Nada aconteceu e grasnei de novo. Depois esperei, que saber esperar é a forma de algo acontecer e vi ao longe uma luz vermelha, do mais vermelho que se pode imaginar, do vermelho de que se diluiu a cor do sangue a as bandeiras de raiva que inspiraram guerras e ele cresceu na minha frente, ainda me fazia tremer a sua presença, ignorante é o súbdito que não teme o seu rei.

-Oberon, perdoa-me o importunio mas trago noticias de urgência, a tua querida e protegida Mustardseed, corre perigo, aventurou-se por onde não devia e está de asa quebrada, caída no chão, à mercê de quem lhe queira mal, sabes que não devias deixar sair as crianças.
-Puck, filho bastardo de um cão sarnento e de uma fada atrasada com cio, não a podias ter ajudado? Nem me vais dizer mais nada, vais voar imediatamente para o pé dela, larga umas penas pelo caminho que eu mando ajuda, vai!

Há forças que não queremos contrariar e mesmo não gostando nada de voar em lugares apertados, sai de imediato pelo caminho de volta, Fada burra e lingrinhas, vai mesmo obrigar-me a largar este corpo…

1 comentário:

  1. Lol

    Fada burra e lingrinhas... ahahahha

    Estou a adorar esta história! :D

    Beijitos

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